Aqui vão as minhas primeiras impressões e idéias soltas sobre a versão do diretor de CYBORG.
Quem se interessar por mais informaçõs sobre essa director’s cut, eu recomendo este post, escrito pelo Osvaldo Neto há poucos meses. O fato é que desde as primeiras notícias a respeito da descoberta desta versão, eu não pude conter a animação de saber que teria, em algum momento, o prazer de assistir a este filme da maneira como o Albert Pyun imaginou em termos de montagem, atmosfera e trilha sonora. Já disse isso no meu texto sobre a versão de cimena de CYBORG, mas vale repetir que se trata de um dos filmes que mais marcou a minha infância e se hoje sou um grande fã de filmes de ação e artes marciais, CYBORG teve grande parcela de culpa.
Um detalhe importante é que o termo “director’s cut” não possui a mesma definição da qual estamos acostumados. Não é o trabalho de alguém que resolveu remontar o filme, nem pretende o relançamento comercial para substituir o “original”. Esta é uma versão de CYBORG praticamente em estado bruto, realizada antes dos execultivos retirarem das mãos do Pyun no processo de edição. Percebe-se até uma falta de acabamento em algumas cenas, além da imagem ruim, de VHS, sendo destinada somente para os verdadeiros fãs do filme e de seu diretor. E por isso, aumenta ainda mais o prazer de ter em mãos esta preciosidade.
Não vou fazer cerimônias pra comentar algumas diferenças entre as duas versões e vou soltar spoilers sem preocupações. Considerem avisados!
Depois de toda a história em relação à produção de MESTRES DO UNIVERSO 2 e HOMEM ARANHA, que vocês terão mais detalhes aqui, surgiu a idéia de fazer CYBORG, mas a princípio, o título seria SLINGER, que é a denominação utilizada para os personagens errantes do universo do filme, como é o caso de Gibson Rickenbacker, vivido pelo astro belga Jean Claude Van Damme. Nesta versão, não existe praga alguma devastando a população. Gibson persegue o vilão Fender (Vincent Klyn) por vingança, pura e simples, e nem se preocupa tanto com a tal cyborg sequestrada. Quanto a esta, a sua função no filme é carregar dados que vão ajudar a reestabelecer as redes elétricas deste futuro pós apocalíptico. Bom, ao menos é o que ela diz, mas descobrimos no fim que ela seus responsáveis possuem segundas intenções não muito amigáveis, dando ao filme um tom mais depressivo que já tinha.
Fender, na brilhante presença de Vincent Klyn, não muda muito. É a personificação do mal em todos os sentidos em ambas as versões, mas ganha um tom meio religioso aqui, como um enviado do diabo para trazer o caos, reforçado pela narração em off que não havia na outra versão. Aliás, a director’s cut ganha uma narração que permeia quase todo o filme e as palavras de Gibson dão ao personagem um interessante viés de samurai, algo que Pyun sempre declarou ter buscado para o sujeito.
A trilha sonora é um dos elementos que mais se diferencia do original. Eu gosto bastante da trilha de Kevin Bassinson, com destaque para as melodias suaves e tristes das cenas de flashback. Mas a que temos aqui, composta por Tony Ripparetti, parceiro de Pyun até hoje, é muito superior e se encaixa perfeitamente à narrativa, não apenas acompanhando as imagens, mas realmente dá ritmo e eleva a obra num patamar bem mais alto.
Não há nada nesta nova versão que eu não tenha gostado, mas existem alguns detalhes dos quais eu prefiro na versão anterior. As cenas de flashback na director’s cut são objetivas e surgem antes cronologicamente falando em relação à versão para cinema. Por exemplo, quando chega a grande sequência da crucificação do Van Damme, já sabemos de toda a história entre ele e Fender. A própria cena da crucificação ficou mais curta, embora não menos brutal. No orignal, a conclusão dos flashbacks vinham no momento em que Gibson estava pregado na cruz, prolongando ainda mais a cena, deixando-a com uma carga dramática muito maior. Outra grande diferença é na luta final entre Fender e Gibson. Ambas são excelentes, na minha opinião. Mas a desta aqui, apesar de possuir uma idéia mais visceral, sua execução fica um pouco a desejar, poupa o espectador de mostrar a morte horrível de Fender, deixando as coisas na imaginação, provavelmente pelo baixo orçamento, mas o fato é que entre as duas, prefiro a original, que é mais longa e mostra tudo o que tem que mostrar.
De uma forma geral, acho que esta director’s cut se encaixa mais ao estilo de Albert Pyun naquele período. É mais sombrio e dá ênfase às suas peculiaridades estéticas e influências (Sergio Leone e os filmes de samurai). Já a edição dos produtores deu a CYBORG um aspecto de filme de ação de baixo orçamento como tantos que existem por aí, mas com um resquício criativo de um realizador cheio de personalidade. Reforço que ainda assim, de alguma forma, foi um dos filmes que mais me encantou durante a infância, justamente pelos vestígios deixados por Albert Pyun.
E pra ser totalmente franco com vocês, essa director’s cut não possui modificações gritantes em relação ao “original”, está bem longe de ser "outro filme". E o grande lance é que o material bruto das filmagens de CYBORG, totalmente realizado por Pyun, é muito bom e é o que realmente faz toda a diferença! Todas as grandes cenas antológicas que transformaram esta obra num clássico permanecem aqui.
Acho que se eu pegasse esse material e editasse a minha versão, seguindo a mesma trama, não tenho dúvidas de que seria capaz de fazer um bom filme! Mas são as mínimas nuances que diferenciam uma versão da outra que demonstram claramente a idéia mais autoral de Albert Pyun. E olha que CYBORG, do jeitinho que era antes, já era o meu filme preferido do diretor… essa versão chega apenas para definir não apenas essa minha opinião, mas para colocar CYBORG entre os meus favoritos do gênero!
Ao fim do filme, há uma menção sobre um futuro projeto que retornaria ao universo de CYBORG em uma nova produção. Talvez uma sequência ou uma pré-continuação… veremos no que isso vai dar.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
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