quinta-feira, 25 de março de 2010

REVIEW: VIAGEM RADIOATIVA (Radioactive Dreams, 1985)


Viagem Radioativa é um caso ímpar na história da sétima arte. Albert Pyun realizou um filme que previu o seu destino pelo fato de uma das músicas da trilha se chamar "Guilty Pleasures". A antiga VHS distribuída pela Look Vídeo é definida por Rubens Ewald Filho na sua introdução como "uma simpática aventura de ficção". O que quer dizer que, atualmente, tanto para ele quanto para alguns fãs de produções fuleiras, ela tem seu lugar reservado dentre os seus prazeres culpados do cinema.

Com um roteiro repleto de 'qualidades' escrito pelo próprio diretor, a produção consegue fazer juz ao feliz título brasileiro. Ela tem uma história até original e começa com dois homens (o veterano George Kennedy e Don Murray) levando duas crianças para um abrigo nuclear, devido ao início da devastadora Terceira Guerra Mundial. Detalhe: Isso aconteceu em 1986!! Passado algum tempo e após terem recebido alguma educação, os garotos são abandonados. Enclausurados e sem ter o que fazer, eles se dedicam a leitura de vários romances policiais clássicos e baratos e passam a se considerar verdadeiros experts criminais. 15 anos depois, Phillip (John Stockwell) e Marlowe (Michael Dudikoff) conseguem cortar seus cabelos, arranjar roupas típicas de investigador, encontrar uma saída e ligar um empoeirado carro guardado todo este tempo sem qualquer dificuldade para encontrar o mundo amalucado que os espera.


E bota amalucado nisso. Em pleno 2001, temos cyberpunks motoqueiros, mutantes asquerosos, punks canibais e gente com o rosto deformado de tantos piercings entre os únicos sobreviventes da Terra. Os nossos heróis ainda tem de encarar a mercenária Miles Archer (Lisa Blount, do clássico O Príncipe das Trevas, dirigido por John Carpenter) que acidentalmente deixou com eles a chave para detonar o último míssil nuclear do planeta e dois pirralhos arrumadinhos, armados e dementes que dizem "fuck" ou "fucking" a cada 2 segundos. Portanto, quem for assistir ao filme deve estar preparado para algo realmente atípico. Viagem Radioativa pode ser definido em poucas palavras como uma mistureba braba e insana de "film noir", ficção científica, comédia e musical (!!!) amparada por uma trilha sonora pop pra lá de datada e divertida. É ver para crer.


As presenças de John Stockwell e Michael Dudikoff como os ingênuos protagonistas é outra coisa que deixa a película interessante. Na época, Stockwell já tinha feito Christine - O Carro Assassino (Carpenter outra vez) e seria o vilão de Caçada Perigosa (também conhecido como A Ronda da Morte), produção da inesquecível Cannon Pictures, onde trabalha novamente com Pyun. Ele passa a ser mais conhecido do público quando atua ao lado de Tom Cruise e Val Kilmer em Top Gun. Atualmente, Stockwell se dedica mais escrevendo e dirigindo longas metragens, como o "polêmico" TURISTAS.

Após contracenar com Tom Hanks em A Última Festa de Solteiro, Dudikoff foi o garoto de ouro da Cannon ao estrelar o clássico da Sessão da Tarde (que infelizmente agora só passa filmes de animais e bebês inteligentes) chamado Guerreiro Americano, onde dividiu a tela com Steve James. Depois deste, vieram títulos como A Volta do Guerreiro Americano e O Rio da Morte. A partir dos anos 90, ele entrou com força total no mercado de filmes de ação para lançamento em vídeo, tendo algumas produções dirigidas por Jim Wynorski e Fred Olen Ray na sua filmografia. Com o último, Dudikoff fez um faroeste co-estrelado pelo grande William Smith e Randy Travis intitulado The Shooter. Um de seus últimos trabalhos foi Força da Natureza, dirigido pelo Wynorski, onde contracenou com Treat Williams e Tim Thomerson. Hoje em dia, anda sumido e sem previsões de novos projetos no IMDB.


Podemos notar que Viagem Radioativa também é uma das primeiras colaborações de dois futuros veteranos na filmografia de Albert Pyun. O compositor Tony Riparetti tem aqui a sua primeira colaboração com Pyun, em canções da trilha sonora. O ator alemão Norbert Weisser faz um dos vilões malucos e tem uma inesquecível, porém pequena participação logo no início de O Enigma de Outro Mundo. Resta alguma dúvida que Pyun é fã de John Carpenter?

Quem curte uma boa tralha não pode deixar de conhecer esta esquisita pérola do cinema oitentista. Afinal, em qual outro filme poderemos ver um monstrengo enorme e sem qualquer relação com a trama aparecendo nos lugares mais inimagináveis para assustar os personagens?? Mais anos 80 impossível.

Texto originalmente postado no extinto site Erotikill.

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