Distribuído pelos próprios realizadores no mercado de vídeo, Bulletface é o último trabalho de Albert Pyun lançado lá fora. É um exemplar bem estranho dentro do próprio cinema do diretor, ao mesmo tempo pode-se notar o estilo Pyun presente em cada fragmento, seja beneficiando ou até mesmo prejudicando a obra. Não vou fazer como os nossos amigos gringos que vêm tecendo elogios exagerados à fita. Seria hipocrisia da minha parte não apontar alguns detalhes que me incomodaram bastante, embora eu tenha gostado muito do filme.
É preciso levar em consideração que Pyun completou as filmagens de Bulletface em menos de uma semana com um orçamento baixíssimo até para o nível do nosso cinema nacional. Mas até aí tudo bem, mesmo porque a direção é interessante, com um tom “arthouse” e experimentalismo barroco, estética de câmera amadora que, particularmente, aprecio no cinema B atual e que Pyun faz muito bom uso. O enredo também não é nada simples focando mais no drama da personagem do que na ação. Basicamente, a trama acompanha Dara Marren (a argentina Victoria Maurette), uma ex-agente policial que vai parar no xadrez para livrar a pele de Bruno, seu irmão mais novo.
As cenas na prisão resumem-se em desagradáveis estupros que a protagonista sofre, sempre aparecendo em sonhos e lembranças durante a narrativa. Apesar da nudez, não há nada de sexy nessas sequências, embora sejam algumas das melhores aqui presente, filmadas com grande força, um realismo impressionante e iluminação bem trabalhada. Os atores também prestam um bom serviço.
Durante a detenção de Dara, Bruno acaba assassinado por traficantes de uma nova e perigosa droga chamada Red Eye, feita através de um fluido da espinha dorsal humana. Um agente especial do governo, interpretado pelo veterano Steven Bauer, aproveita a situação de Dara para libertá-la durante um fim de semana para que possa se vingar dos culpados pela morte do irmão. Em troca ela o ajudaria a pegar os responsáveis pela nova droga.
Victoria Maurette está magnífica. É o segundo trabalho que ela faz com o diretor e percebe-se o entrosamento nas encenações. Em Tales of Ancient Empire ela voltará no papel de uma sensual vampira e Pyun ainda tem mais planos para ela em futuros trabalhos. Dara Marren é uma personagem forte, complexa, bem construída e Maurette se encaixa perfeitamente a ela. O elenco é um grande destaque em Bulletface. Bauer está muito bem e lembra um Mickey Rourke dos filmes B, já Scott Paulin, grande colaborador de Pyun, tem ótimos momentos.
A jornada de Dara em busca de vingança funciona como um bizarro filme noir moderno com uma pitada de ficção científica (nas cenas do laboratório onde a droga é projetada). Nada que surpreenda o fã mais entusiasta de Albert Pyun. Este parece vislumbrado com as novas ferramentas tecnológicas de montagem e é exatamente aí que mora o perigo. Ken Morrisey é o nome do editor, mas é provável que quem toma as decisões de montagem seja o Pyun. O sujeito atira para todos os lados: congela imagens, abusa de split screen, efeitos moderninhos, etc, tudo que tem direito. Só que ele não tem a mínima noção de como isso prejudica muito o ritmo do filme.
Infelizmente estes detalhes de edição não dão a impressão de que o realizador seja o mesmo que dirigiu Nemesis, Cyborg ou Jogo de Assassinos. E o que mais impressiona é que a direção experimental dele é ótima, mas nem isso, nem o elenco afiado e até mesmo a brilhante trilha sonora de Tony Riparetti compensam. Para um maluco aficcionado pelo cinema do Pyun, como eu, o resultado final é positivo, possui todos os tiques que fazem a personalidade do diretor e até as bizarrices que agradam seus fãs. O problema é que por conta da montagem o filme acaba limitado a este público específico: fãs de Albert Pyun. O espectador normal poderá não aguentar nem os primeiros 10 minutos, o que é uma pena.
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2 comentários:
A Victoria Maurette aparece peladinha?
Olha, tudo indica que sim, hehe... nas cenas de nudez não consegui identificar se era ela mesma ou se usou dublê de corpo...
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